Para além dos destinos da anatomia ... As novas singularidades contemporâneas.
“É indispensável deixar claro que os conceitos “masculino” e “feminino” cujo conteúdo parece tão inambíguo à opinião corriqueira, figuram entre os mais confusos da ciência...” Sigmund Freud
Como disse Freud, ninguém nasce homem ou mulher; percorremos um caminho para a construção de nossa sexualidade, que necessariamente não será expressa apenas pelo gênero ao qual anatomicamente pertencemos.
Somos inscritos em uma ordem simbólica, mesmo antes de existirmos. A linguagem e o desejo inconsciente dos pais nos precedem, marcam e determinam a posição do sujeito na ordem familiar. Nossos corpos nos remetem ao real e uma forma de existência determinada pela anatomia, que segundo Maria Rita kehl é “a mínima diferença”.
A cultura nos obriga a uma expressão da sexualidade segundo os padrões vigentes e aceitos pela sociedade. É uma negação de que cada sujeito é marcado pelos caminhos de sua pulsionalidade. O exercício da clínica psicanalítica nos faz ampliar o entendimento para auxiliar o sujeito na busca de sua verdade.
Katia Santos
Diretoria de ensino
segunda-feira, 30 de março de 2009
O Feminino: por que se escondes?
Com este texto pretendemos mostrar um pequeno resumo dos tempos passados, abordando a mulher em seu modo de existir como sujeito singular de suas ações. Contrapondo-se a um novo referencial de sua contemporaneidade, que irá apontar para uma realidade de sua existência atual.
Será que as mulheres ainda transitam nas ruas das chamadas Amélias?
Então vamos fazer um vôo através dos tempos, retrocedendo ao passado com pequenas rasantes. Iremos antes de Cristo, onde veremos que a mulher sofreu grandes conseqüências entrelaçadas aos valores culturais, que se remetem aos aspectos biopsicossocial, apontando para uma rede tecida de cultura bastante preconceituosa. Assim essa mulher não podia expor o seu corpo e muito menos expressar livremente seus sentimentos, seus desejos, suas dores, suas aptidões. Diante de todas essas questões, só lhe restava ficar contida numa “caixa de reserva” o que poderia ser confundido com um reservatório, uma represa, sim, pois essa mulher era considerada um objeto sem valor, sem voz, que mal poderia comparecer ao espaço público, ou seja, fora do domínio da casa, em momentos de rito sagrado e de funerais em algumas culturas, única ocasião que poderia estar se mostrando ao público, mulheres casadas que se submetiam ao domínio masculino, tendo inclusive de ficar separadas dos homens em ambientes comuns a casa. Não era permitido às mulheres participar de conversas juntamente com os homens, o que as fazia ficar segregadas, num lugar chamado gineceu.
Percebemos que o homem tende a se distanciar do sexo feminino, numa determinada época. Época esta que era vivida de acordo, com os padrões de evolução cultural vigentes. O pensador Aristóteles teria afirmado “que a mulher quando menstruada tinha poder de empretecer os espelhos”. (Muraro, 1997, p.113)
Em contrapartida as mulheres pobres e escravas parece que usufruía de menos repressão do masculino, pois estas transitavam no espaço público com mais liberdade.
A mulher estava num processo de assujeitamanto total desde os primórdios da história. Devido a referida situação não podia exercer a cidadania, pois lhe era furtado o direito de votar, de escolher, e de expressar suas vontades, seus desejos.
Estava à mercê de um poder masculino, onde as ordens eram ditadas de forma verticalizadas. Essa mulher mostrava o seu existir através de seus empreendimentos domésticos que se alastravam entre outros compartimentos e objetos da casa, como alcovas, cozinha, cuidados com os filhos, com o marido e a própria casa em si. A outra face de sua existência era vista em um papel voltado para maternidade, onde mostrava algo ligado ao instinto, que acabava colocando-a como simples reprodutora da espécie humana, ou seja, a maternidade apontava um papel preponderante neste cenário. Por outro lado a sexualidade era relegada a segundo plano, algo que não poderia ser mostrado nem tão pouco falado. Uma vez calada, o sintoma eclodia rebelando-se por meio de ato, só lhe restando sobrevir rótulos, que a medicina ainda reforçava, através de diagnósticos como “mulheres com ataques de nervos”, “mulheres nervosas”, entre outros estereótipos categóricos como a “mulher frígida”, dotada de pouca razão, demonstrando sentimento de inutilidade, passividade, frágil, que não pensa e que executa os mandos desse personagem masculino que ao oposto dessa mulher, é visto como homem forte, viril, ativo e dotado de razão. Enquanto a mulher muitas vezes, não tinha direito de ser chamada nem mesmo pelo seu próprio nome e sim como “ Ah! É a mulher de Fulano”..., mostrando de certa forma o quanto essa mulher era reconhecida como propriedade e submissão do marido, até porque permanecia oculta naquele ambiente privado – a casa. Assim sendo se entranha nas rotinas domésticas cotidianamente em detrimento de um saber que só muitos anos depois pode ser alcançado. O estudo era algo que não tinha preponderância na vida feminina, sendo inclusive lhe furtado o direito de ingresso em faculdades.
Com o avançar dos tempos, se antes a mulher era vista como objeto de submissão não poderia expressar seus sentimentos e desejos, como poderia saber de seus direitos? Será que poderíamos nomeá-las como ser falante, diante de tanta submissão, onde até o direito ao voto lhe era suprimido?
A trajetória feminina vai avançando entre movimentos revolucionários que envolvem mudanças significativas para a mulher. Entre outros avanços, na década de 60 ocorre algo novo, de notável importância neste território feminino. Com o progresso da medicina, ocorreu um grande achado, o advento da pílula anticoncepcional. Podemos dizer que este funcionou como uma chave que veio abrir a porta da sexualidade feminina, até então bastante fechada, reprimida. Outro fator importante era o medo que a rondava em função de uma possível gravidez indesejada. Tal fator por sua vez lhe tolia o direito de exercer a sexualidade com mais liberdade.
Parece que neste momento a mulher começa a se despontar não mais como objeto de submissão da esfera masculina. Se há alguns anos atrás, as feministas estavam numa luta arraigada em prol de igualdade sexual; atualmente nos deparamos com outra face da mesma moeda, ou seja, parece que o paradigma que até então se manteve estagnado por algum tempo, hoje tende a fluir de forma que vem marcar a diferença, porém apontando para um horizonte de possibilidades e pluralidades que abarca potencialidades e não aquela diferença que vá anular a desigualdade entre os sexos.
Não podemos esquecer que uma grande parte desse universo feminino, obteve conquistas ao longo dos anos, subindo e descendo em palanques. Agregadas em movimentos contestadores, contra um pensamento voltado para a cultura do masculino, que naturalmente lhe deu grandes troféus. Prova disso é que atualmente temos mulheres em quase todas as esferas de trabalho, inclusive na área política e militar.
Essa participação ativa do feminino se alavancou em movimentos contestatórios para atingir a esfera pública e o mercado de trabalho. Assim sendo será que podemos pensar numa “nova” mulher? Ou será que temos aí uma mulher atravessada por um mal-estar que de forma oculta lhe impede de dizer: ”Ah! Estou cansada de tudo isto” - duplas e triplas jornadas de trabalho, longe dos filhos que ainda são pequenos...
Agora não é o masculino que lhe cobra uma submissão, e sim o cargo, a posição, o lugar que tanto almejou chegar numa divisão hierarquizada da esfera social.
Com essa nova posição, ocupação de cargos que exigem responsabilidades, jornadas intensas de trabalho, como fica suas questões subjetivas, o seu mundo interno, a sua área psíquica, o seu existir como sujeito inscrito numa história de vida envolvendo vários papéis nas suas atuações profissionais?
Será que é tão fácil deslizar de um papel para outro? Ora ser mãe, dona- de casa, ora ser outro profissional, mulher guerreira, a provedora que também tem que mostrar suas potencialidades, qualidades sem esquecer de dar conta da cama à noite quando chega mesmo cansada? E na hora de deixar para atrás os filhos, a casa sob cuidados de terceiros? Será que tudo aquilo que o ser humano traz consigo ao longo de sua existência como construção psíquica, herança sócio-cultural, não tem papel relevante nestes momentos?
O que vemos é que a mulher alcançou o espaço público, entretanto há uma grande carga de tensão, insatisfação para conciliar esses aspectos do público e do privado, pois ela não deslizou totalmente desse lugar, da casa , das vinculações intimas com a cozinha, ou seja , os aspectos domésticos ainda estão rondando o seu ser, mesmo lá fora no seu exercício profissional. Há uma preocupação constante com o filho que ficou em casa, se está bem cuidado ou não, se tomou o remédio, se a febre baixou, enfim como deverá estar se sentindo?
Assim é esta super mulher contemporânea, autônoma, independente economicamente, porém vive um conflito, uma tensão que sobrevém uma culpa. Será mesmo tão fácil abrir mão de tudo aquilo que conquistou sob as rédeas fortes dos comportamentos masculinos, versus a fragilidade do feminino, diante de uma cultura carregada de costumes, valores que se torna difícil a quebra de padrões estabelecidos? São questionamentos que nos remete a reflexão de uma forma bastante ampla, pois tudo isto aponta para uma área difícil de transitar, o subjetivo, o psiquismo do ser humano
Como já foi falado acima o sexo feminino era visto por um viés bastante preconceituoso, segregada a um horizonte oculto, obscuro, relegado ao plano de uma inferioridade, que colocava a mulher num patamar de submissão como um objeto de assujeitamento.
Será que poderemos atrelar uma articulação do masculino versus feminino com o Eu Ideal (ou Ego Ideal), contrapondo ao Ideal de Ego?
Segundo Laplanche e Pontalis (1998, p.139) o Ego ideal é “formação intrapsíquica que certos autores diferenciando-a do Ideal de Ego, definem como um ideal narcísico de onipotência forjado a partir do modelo do narcisismo infantil”.
Uma vez que o masculino é abordado no texto de forma dominadora sobre o feminino - podemos pensar que forma onipotente é esta que acaba sufocando o sexo feminino? E que por sua vez impõe ao Outro um desejo que está aquém desse Outro, e que, porém deixa ser capturado para atender a demanda de imposição exacerbada do sujeito narcisista que é representado por este homem dominador, autoritário, que tem como representante da Lei um superego, que segundo a Maria Ângela Santa Cruz, autora do texto - “O Paradoxo da Saída Feminina na cultura Contemporânea”, onde diz “que o superego, além de ser a instância responsável pelas proibições, também é o agente responsável pelos imperativos culturais nos sujeitos individuados”. Por este viés, o sujeito masculino estaria atuando numa perspectiva de provocar na mulher um comportamento de submissão que atenderia à expectativa dominadora desse homem e ao mesmo tempo parece que o feminino estaria engendrado por um Ideal de Ego imposto num cenário onde o autor dessa cena passa ser o homem enquanto sujeito de dominação feminina.
Caminhando pela via de uma questão que me parece não ser tão somente uma questão, mas algo mais profundo, mais internalizado, que irá apontar o feminino para uma esfera mais longínqua no âmago do seu existir.
Será que podemos pensar ainda que neste cenário onde o feminino se dobra e atua diante de uma forma imposta por uma autoridade, envolta numa capa narcísica, estaria apontando para um Falso Self (Falso Eu) que diante dessa atuação deste ator chamado Eu Ideal, impôs suas leis e a atriz se investiu com uma máscara da fragilidade e com muita sensibilidade abarcou o papel sem usar da Razão e ainda disse: Obrigada! E só muito tempo depois é que começou a perceber o significado dessa cena.?
Se reportarmos a uma linguagem Winnicottiana, será que poderíamos dizer que ela fora travestida por um belo Falso Self? Ou seja, o eu verdadeiro estaria encoberto por uma capa protetora de defesas que não consegue reagir, senão àquela que lhe é imposta de forma á coloca-la num lugar de objeto de submissão, de inutilidade.
Winnicott (2000, p.389) nos diz que:
Com o eu verdadeiro protegido, surge um eu falso, construído sobre uma base de submissão defensiva, aceitação da reação à intrusão. O desenvolvimento do falso eu é uma das organizações defensivas mais bem – sucedidas, destinadas a proteger o núcleo do eu verdadeiro, e sua existência tem por conseqüência a sensação de inutilidade.
De acordo com o questionamento acima, pensamos que sim, pois, aliás, foram anos após anos, o caminhar das Amélias. Caminhar esse marcado por sofrimentos, submissões, dores e o seu existir calada, mas que no decorrer dos anos conseguiu de alguma forma dar um certo alívio, pois minimizou o fardo do Falso Self, que outrora era “figura” simbiótica constante consigo próprio.
Assim, finalizando, percebemos que através do deslizar das arestas dos desdobramen tos de comportamentos feminino versus masculino, apontou o homem para uma nova direção. Seria uma adaptação nesse imaginário social, que fora tecido através de uma lógica do feminino, que até então, tudo lhe dava às mãos. Hoje parece que mesmo conflitada, angustiada, a figura feminina, tenta ter um existir diferenciado, com um fardo menos pesado para transitar na contra-mão das chamadas Amélias, que outrora, funciona vam mais como uma serva da figura do masculino, do que um sujeito digno de seus próprios desejos, suas escolhas e suas ações.
Referências Bibliográficas:
KHEL, M. Rita. 2006. Deslocamento do Feminino, Imago.
Cadernos de Psicanálise- CPRJ- 2005, Masculino/Feminino: A Clinica dos Novos Paradigmas.
MURARO, R Marie. 1997. A Mulher no Terceiro Milênio. Rio de Janeiro. Editora Record: Rosa dos Tempos.
LAPLANCHE & PONTALIS. 1998. Dicionário de Psicanálise.. Rio de Janeiro.. Editora Martins.
NERI, Regina. 2005. A Psicanálise e o Feminino: um novo Horizonte da Modernidade. Editora. Civilização Brasileira.
WINNICOTT, WD. 2000. Da Pediatria à Psicanálise. Rio de Janeiro: Editora Imago
Por: Teresa de Paiva Souza - teresadepaiva@gmail.com
Será que as mulheres ainda transitam nas ruas das chamadas Amélias?
Então vamos fazer um vôo através dos tempos, retrocedendo ao passado com pequenas rasantes. Iremos antes de Cristo, onde veremos que a mulher sofreu grandes conseqüências entrelaçadas aos valores culturais, que se remetem aos aspectos biopsicossocial, apontando para uma rede tecida de cultura bastante preconceituosa. Assim essa mulher não podia expor o seu corpo e muito menos expressar livremente seus sentimentos, seus desejos, suas dores, suas aptidões. Diante de todas essas questões, só lhe restava ficar contida numa “caixa de reserva” o que poderia ser confundido com um reservatório, uma represa, sim, pois essa mulher era considerada um objeto sem valor, sem voz, que mal poderia comparecer ao espaço público, ou seja, fora do domínio da casa, em momentos de rito sagrado e de funerais em algumas culturas, única ocasião que poderia estar se mostrando ao público, mulheres casadas que se submetiam ao domínio masculino, tendo inclusive de ficar separadas dos homens em ambientes comuns a casa. Não era permitido às mulheres participar de conversas juntamente com os homens, o que as fazia ficar segregadas, num lugar chamado gineceu.
Percebemos que o homem tende a se distanciar do sexo feminino, numa determinada época. Época esta que era vivida de acordo, com os padrões de evolução cultural vigentes. O pensador Aristóteles teria afirmado “que a mulher quando menstruada tinha poder de empretecer os espelhos”. (Muraro, 1997, p.113)
Em contrapartida as mulheres pobres e escravas parece que usufruía de menos repressão do masculino, pois estas transitavam no espaço público com mais liberdade.
A mulher estava num processo de assujeitamanto total desde os primórdios da história. Devido a referida situação não podia exercer a cidadania, pois lhe era furtado o direito de votar, de escolher, e de expressar suas vontades, seus desejos.
Estava à mercê de um poder masculino, onde as ordens eram ditadas de forma verticalizadas. Essa mulher mostrava o seu existir através de seus empreendimentos domésticos que se alastravam entre outros compartimentos e objetos da casa, como alcovas, cozinha, cuidados com os filhos, com o marido e a própria casa em si. A outra face de sua existência era vista em um papel voltado para maternidade, onde mostrava algo ligado ao instinto, que acabava colocando-a como simples reprodutora da espécie humana, ou seja, a maternidade apontava um papel preponderante neste cenário. Por outro lado a sexualidade era relegada a segundo plano, algo que não poderia ser mostrado nem tão pouco falado. Uma vez calada, o sintoma eclodia rebelando-se por meio de ato, só lhe restando sobrevir rótulos, que a medicina ainda reforçava, através de diagnósticos como “mulheres com ataques de nervos”, “mulheres nervosas”, entre outros estereótipos categóricos como a “mulher frígida”, dotada de pouca razão, demonstrando sentimento de inutilidade, passividade, frágil, que não pensa e que executa os mandos desse personagem masculino que ao oposto dessa mulher, é visto como homem forte, viril, ativo e dotado de razão. Enquanto a mulher muitas vezes, não tinha direito de ser chamada nem mesmo pelo seu próprio nome e sim como “ Ah! É a mulher de Fulano”..., mostrando de certa forma o quanto essa mulher era reconhecida como propriedade e submissão do marido, até porque permanecia oculta naquele ambiente privado – a casa. Assim sendo se entranha nas rotinas domésticas cotidianamente em detrimento de um saber que só muitos anos depois pode ser alcançado. O estudo era algo que não tinha preponderância na vida feminina, sendo inclusive lhe furtado o direito de ingresso em faculdades.
Com o avançar dos tempos, se antes a mulher era vista como objeto de submissão não poderia expressar seus sentimentos e desejos, como poderia saber de seus direitos? Será que poderíamos nomeá-las como ser falante, diante de tanta submissão, onde até o direito ao voto lhe era suprimido?
A trajetória feminina vai avançando entre movimentos revolucionários que envolvem mudanças significativas para a mulher. Entre outros avanços, na década de 60 ocorre algo novo, de notável importância neste território feminino. Com o progresso da medicina, ocorreu um grande achado, o advento da pílula anticoncepcional. Podemos dizer que este funcionou como uma chave que veio abrir a porta da sexualidade feminina, até então bastante fechada, reprimida. Outro fator importante era o medo que a rondava em função de uma possível gravidez indesejada. Tal fator por sua vez lhe tolia o direito de exercer a sexualidade com mais liberdade.
Parece que neste momento a mulher começa a se despontar não mais como objeto de submissão da esfera masculina. Se há alguns anos atrás, as feministas estavam numa luta arraigada em prol de igualdade sexual; atualmente nos deparamos com outra face da mesma moeda, ou seja, parece que o paradigma que até então se manteve estagnado por algum tempo, hoje tende a fluir de forma que vem marcar a diferença, porém apontando para um horizonte de possibilidades e pluralidades que abarca potencialidades e não aquela diferença que vá anular a desigualdade entre os sexos.
Não podemos esquecer que uma grande parte desse universo feminino, obteve conquistas ao longo dos anos, subindo e descendo em palanques. Agregadas em movimentos contestadores, contra um pensamento voltado para a cultura do masculino, que naturalmente lhe deu grandes troféus. Prova disso é que atualmente temos mulheres em quase todas as esferas de trabalho, inclusive na área política e militar.
Essa participação ativa do feminino se alavancou em movimentos contestatórios para atingir a esfera pública e o mercado de trabalho. Assim sendo será que podemos pensar numa “nova” mulher? Ou será que temos aí uma mulher atravessada por um mal-estar que de forma oculta lhe impede de dizer: ”Ah! Estou cansada de tudo isto” - duplas e triplas jornadas de trabalho, longe dos filhos que ainda são pequenos...
Agora não é o masculino que lhe cobra uma submissão, e sim o cargo, a posição, o lugar que tanto almejou chegar numa divisão hierarquizada da esfera social.
Com essa nova posição, ocupação de cargos que exigem responsabilidades, jornadas intensas de trabalho, como fica suas questões subjetivas, o seu mundo interno, a sua área psíquica, o seu existir como sujeito inscrito numa história de vida envolvendo vários papéis nas suas atuações profissionais?
Será que é tão fácil deslizar de um papel para outro? Ora ser mãe, dona- de casa, ora ser outro profissional, mulher guerreira, a provedora que também tem que mostrar suas potencialidades, qualidades sem esquecer de dar conta da cama à noite quando chega mesmo cansada? E na hora de deixar para atrás os filhos, a casa sob cuidados de terceiros? Será que tudo aquilo que o ser humano traz consigo ao longo de sua existência como construção psíquica, herança sócio-cultural, não tem papel relevante nestes momentos?
O que vemos é que a mulher alcançou o espaço público, entretanto há uma grande carga de tensão, insatisfação para conciliar esses aspectos do público e do privado, pois ela não deslizou totalmente desse lugar, da casa , das vinculações intimas com a cozinha, ou seja , os aspectos domésticos ainda estão rondando o seu ser, mesmo lá fora no seu exercício profissional. Há uma preocupação constante com o filho que ficou em casa, se está bem cuidado ou não, se tomou o remédio, se a febre baixou, enfim como deverá estar se sentindo?
Assim é esta super mulher contemporânea, autônoma, independente economicamente, porém vive um conflito, uma tensão que sobrevém uma culpa. Será mesmo tão fácil abrir mão de tudo aquilo que conquistou sob as rédeas fortes dos comportamentos masculinos, versus a fragilidade do feminino, diante de uma cultura carregada de costumes, valores que se torna difícil a quebra de padrões estabelecidos? São questionamentos que nos remete a reflexão de uma forma bastante ampla, pois tudo isto aponta para uma área difícil de transitar, o subjetivo, o psiquismo do ser humano
Como já foi falado acima o sexo feminino era visto por um viés bastante preconceituoso, segregada a um horizonte oculto, obscuro, relegado ao plano de uma inferioridade, que colocava a mulher num patamar de submissão como um objeto de assujeitamento.
Será que poderemos atrelar uma articulação do masculino versus feminino com o Eu Ideal (ou Ego Ideal), contrapondo ao Ideal de Ego?
Segundo Laplanche e Pontalis (1998, p.139) o Ego ideal é “formação intrapsíquica que certos autores diferenciando-a do Ideal de Ego, definem como um ideal narcísico de onipotência forjado a partir do modelo do narcisismo infantil”.
Uma vez que o masculino é abordado no texto de forma dominadora sobre o feminino - podemos pensar que forma onipotente é esta que acaba sufocando o sexo feminino? E que por sua vez impõe ao Outro um desejo que está aquém desse Outro, e que, porém deixa ser capturado para atender a demanda de imposição exacerbada do sujeito narcisista que é representado por este homem dominador, autoritário, que tem como representante da Lei um superego, que segundo a Maria Ângela Santa Cruz, autora do texto - “O Paradoxo da Saída Feminina na cultura Contemporânea”, onde diz “que o superego, além de ser a instância responsável pelas proibições, também é o agente responsável pelos imperativos culturais nos sujeitos individuados”. Por este viés, o sujeito masculino estaria atuando numa perspectiva de provocar na mulher um comportamento de submissão que atenderia à expectativa dominadora desse homem e ao mesmo tempo parece que o feminino estaria engendrado por um Ideal de Ego imposto num cenário onde o autor dessa cena passa ser o homem enquanto sujeito de dominação feminina.
Caminhando pela via de uma questão que me parece não ser tão somente uma questão, mas algo mais profundo, mais internalizado, que irá apontar o feminino para uma esfera mais longínqua no âmago do seu existir.
Será que podemos pensar ainda que neste cenário onde o feminino se dobra e atua diante de uma forma imposta por uma autoridade, envolta numa capa narcísica, estaria apontando para um Falso Self (Falso Eu) que diante dessa atuação deste ator chamado Eu Ideal, impôs suas leis e a atriz se investiu com uma máscara da fragilidade e com muita sensibilidade abarcou o papel sem usar da Razão e ainda disse: Obrigada! E só muito tempo depois é que começou a perceber o significado dessa cena.?
Se reportarmos a uma linguagem Winnicottiana, será que poderíamos dizer que ela fora travestida por um belo Falso Self? Ou seja, o eu verdadeiro estaria encoberto por uma capa protetora de defesas que não consegue reagir, senão àquela que lhe é imposta de forma á coloca-la num lugar de objeto de submissão, de inutilidade.
Winnicott (2000, p.389) nos diz que:
Com o eu verdadeiro protegido, surge um eu falso, construído sobre uma base de submissão defensiva, aceitação da reação à intrusão. O desenvolvimento do falso eu é uma das organizações defensivas mais bem – sucedidas, destinadas a proteger o núcleo do eu verdadeiro, e sua existência tem por conseqüência a sensação de inutilidade.
De acordo com o questionamento acima, pensamos que sim, pois, aliás, foram anos após anos, o caminhar das Amélias. Caminhar esse marcado por sofrimentos, submissões, dores e o seu existir calada, mas que no decorrer dos anos conseguiu de alguma forma dar um certo alívio, pois minimizou o fardo do Falso Self, que outrora era “figura” simbiótica constante consigo próprio.
Assim, finalizando, percebemos que através do deslizar das arestas dos desdobramen tos de comportamentos feminino versus masculino, apontou o homem para uma nova direção. Seria uma adaptação nesse imaginário social, que fora tecido através de uma lógica do feminino, que até então, tudo lhe dava às mãos. Hoje parece que mesmo conflitada, angustiada, a figura feminina, tenta ter um existir diferenciado, com um fardo menos pesado para transitar na contra-mão das chamadas Amélias, que outrora, funciona vam mais como uma serva da figura do masculino, do que um sujeito digno de seus próprios desejos, suas escolhas e suas ações.
Referências Bibliográficas:
KHEL, M. Rita. 2006. Deslocamento do Feminino, Imago.
Cadernos de Psicanálise- CPRJ- 2005, Masculino/Feminino: A Clinica dos Novos Paradigmas.
MURARO, R Marie. 1997. A Mulher no Terceiro Milênio. Rio de Janeiro. Editora Record: Rosa dos Tempos.
LAPLANCHE & PONTALIS. 1998. Dicionário de Psicanálise.. Rio de Janeiro.. Editora Martins.
NERI, Regina. 2005. A Psicanálise e o Feminino: um novo Horizonte da Modernidade. Editora. Civilização Brasileira.
WINNICOTT, WD. 2000. Da Pediatria à Psicanálise. Rio de Janeiro: Editora Imago
Por: Teresa de Paiva Souza - teresadepaiva@gmail.com
sábado, 17 de janeiro de 2009
Masculino/Feminino - Algumas reflexões
Que a cultura é necessária para a formação do sujeito não se pode negar. É através dela que se delimitam comportamentos (tabus), as estruturas de intercâmbio (proibição do casamento endogâmico), que se dá a castração para que o sujeito se inscreva no plano simbólico. Mas também não se pode ignorar o aprisionamento que certas regras sociais impõem em suas muitas formas de controle do ser humano. Regras que são impostas a titulo do bem viver, mas que muitas vezes somente trazem mal-estar.
Um exemplo disso é o engessamento do homem enquanto sujeito ativo e imbuído da autoridade sobre a família – autoridade que se fundamenta na figura do provedor e se representa pela tomada de iniciativas; demonstração de segurança; assunção da responsabilidade sobre a família. Essa a realidade das famílias patriarcais, especialmente após a intervenção dos higienistas, época na qual também se ditou às mulheres atributos como receptividade, não agressividade, passividade, fragilidade, doçura, e outras, conseqüentes da submissão ao homem.
Se naquela época as mudanças propostas/impostas – certamente por interesses econômicos – trouxeram/fortaleceram a nova visão da infância e promoveram uma nova forma de se cuidar da criança, valorizando a vida no âmbito familiar (vida privada), a amamentação, etc., trouxeram também o engessamento do “ser homem” e do “ser mulher”, de cujas novas funções e novos papéis dependia o Estado.
Com o esmaecimento da figura paterna, a desautorização da lei, a supervalorização do imediatismo no atendimento dos desejos, o sujeito de hoje parece viver outro dilema. O dilema entre a liberdade para ser o que quiser e a dúvida sobre o que quer ser, como que num movimento oposto ao da cultura que aprisiona/engessa.
Ao mesmo tempo, homens e mulheres lutam pelo poder. Poder fálico, Poder político, Poder econômico. Enfim, o Poder que tem por trás o objetivo da realização dos próprios desejos.
Será que a questão pode estar na divisão por gênero? Não seria melhor haver o respeito à singularidade à diversidade? Se falar em ser humano e não em homem e mulher? Fazer do respeito à alteridade uma forma de se alcançar a igualdade social e de direitos?
Talvez assim, os ditos homens (ativos) não precisariam carregar o peso da responsabilidade sobre a família; de ser forte; ser seguro; de tomar as iniciativas, e as ditas mulheres (passivas) não precisariam carregar o peso da obrigação de serem meigas, frágeis, submissas à dominação masculina. A anatomia não seria mais o ponto de partida para a expectativa sobre certos comportamentos, dando liberdade para que o simbólico se manifestasse da forma como quisesse, e os relacionamentos aí se dessem nas diversas conjugações possíveis. E a criança receberia os cuidados que requer, tanto do dito homem como da dita mulher, pois as funções maternas e paternas seriam cumpridas, assim como Winnicott considerou, por aquele que com ela convive e mantém vínculos.
Como de todo o conhecimento podemos tirar pontos positivos e/ou negativos, opto pelos pontos positivos, especialmente quando me reporto à criança, e me recordo da quantidade de pais – hoje mais habituados a assumir responsabilidades que antes eram designadas às mulheres, quanto aos cuidados com os filhos – que solicitam judicialmente uma convivência mais ampla com os filhos, mesmo quando estes são ainda bebês, e provam que reúnem condições para assisti-los adequadamente, a partir da experiência havida no casamento/ união. Sorte das crianças, que através desses pais dedicados e amorosos poderão usufruir de um universo diferente daquele vivido com certas mães que precisam tê-las como seus phallos.
Enilze de Freitas Medeiros - enilzefreitas@yahoo.com.br
Um exemplo disso é o engessamento do homem enquanto sujeito ativo e imbuído da autoridade sobre a família – autoridade que se fundamenta na figura do provedor e se representa pela tomada de iniciativas; demonstração de segurança; assunção da responsabilidade sobre a família. Essa a realidade das famílias patriarcais, especialmente após a intervenção dos higienistas, época na qual também se ditou às mulheres atributos como receptividade, não agressividade, passividade, fragilidade, doçura, e outras, conseqüentes da submissão ao homem.
Se naquela época as mudanças propostas/impostas – certamente por interesses econômicos – trouxeram/fortaleceram a nova visão da infância e promoveram uma nova forma de se cuidar da criança, valorizando a vida no âmbito familiar (vida privada), a amamentação, etc., trouxeram também o engessamento do “ser homem” e do “ser mulher”, de cujas novas funções e novos papéis dependia o Estado.
Com o esmaecimento da figura paterna, a desautorização da lei, a supervalorização do imediatismo no atendimento dos desejos, o sujeito de hoje parece viver outro dilema. O dilema entre a liberdade para ser o que quiser e a dúvida sobre o que quer ser, como que num movimento oposto ao da cultura que aprisiona/engessa.
Ao mesmo tempo, homens e mulheres lutam pelo poder. Poder fálico, Poder político, Poder econômico. Enfim, o Poder que tem por trás o objetivo da realização dos próprios desejos.
Será que a questão pode estar na divisão por gênero? Não seria melhor haver o respeito à singularidade à diversidade? Se falar em ser humano e não em homem e mulher? Fazer do respeito à alteridade uma forma de se alcançar a igualdade social e de direitos?
Talvez assim, os ditos homens (ativos) não precisariam carregar o peso da responsabilidade sobre a família; de ser forte; ser seguro; de tomar as iniciativas, e as ditas mulheres (passivas) não precisariam carregar o peso da obrigação de serem meigas, frágeis, submissas à dominação masculina. A anatomia não seria mais o ponto de partida para a expectativa sobre certos comportamentos, dando liberdade para que o simbólico se manifestasse da forma como quisesse, e os relacionamentos aí se dessem nas diversas conjugações possíveis. E a criança receberia os cuidados que requer, tanto do dito homem como da dita mulher, pois as funções maternas e paternas seriam cumpridas, assim como Winnicott considerou, por aquele que com ela convive e mantém vínculos.
Como de todo o conhecimento podemos tirar pontos positivos e/ou negativos, opto pelos pontos positivos, especialmente quando me reporto à criança, e me recordo da quantidade de pais – hoje mais habituados a assumir responsabilidades que antes eram designadas às mulheres, quanto aos cuidados com os filhos – que solicitam judicialmente uma convivência mais ampla com os filhos, mesmo quando estes são ainda bebês, e provam que reúnem condições para assisti-los adequadamente, a partir da experiência havida no casamento/ união. Sorte das crianças, que através desses pais dedicados e amorosos poderão usufruir de um universo diferente daquele vivido com certas mães que precisam tê-las como seus phallos.
Enilze de Freitas Medeiros - enilzefreitas@yahoo.com.br
sexta-feira, 16 de janeiro de 2009
O masculino e o feminino como forças da natureza
Hoje, quando falamos em tragédia ou acontecimento trágico, não usamos o sentido filosófico do trágico, que Nietzsche percebeu na tragédia grega. Para ele, a tragédia era a forma de arte mais elevada, pois nela o sentido do termo "trágico" era uma afirmação da realidade, fosse ela qual fosse. Em seu primeiro livro, de 1872, "O nascimento da tragédia", Nietzsche explica a tragédia grega surgindo da união de dois instintos artísticos opostos que se manifestam na própria natureza (e não apenas nos homens): o apolíneo e o dionisíaco. Apolo é o deus da ordem, da precisão, da razão, da luz, da medida, da forma e da ordem. Dioniso é seu oposto e rival: ligado ao dilaceramento, à imprecisão, à escuridão, ao mistério, ao sonho, à embriaguez, ao êxtase, à perda de limites, à dissolução do individual e comunhão com a natureza. As festas para este deus eram onde se perdia totalmente os limites, num terror dionisíaco (para os romanos o deus tinha ouro nome: Baco - daí surgindo o termo "bacanal" para estas celebrações). A tragédia, na teoria desenvolvida por Nietzsche, era a arte mais elevada pois conseguia mostrar o dionisíaco em harmonia com o apolíneo. Não mais uma festa caótica de embriaguez, nem o que viria a se tornar o teatro - sem música nem participação do público no espetáculo. Mas o que quero destacar nesse trabalho é que essas forças opostas e complementares, para Nietzsche, estão em tudo, pois surgem da própria natureza. E de sua eterna batalha nasce a harmonia, como já falava Heráclito, filósofo pré-Socrático, há mais de cinco mil anos trás: "o contrário em tensão é convergente; da divergência dos contrários, a mais bela harmonia." (fragmento 8) Aqui podemos explorar melhor o tema do semestre. Sendo forças gerais, de toda a natureza, será que podemos pensar também o apolíneo como masculino e o dionisíaco como feminino? Não há consenso na filosofia sobre isso. Aceitando tal hipótese, e indo mais além: será que estes impulsos dividem-se ao formar homens e mulheres ou misturam-se em cada homem e em cada mulher? A história mais recente das relações humanas parece ter mostrado uma mudança no papel do homem e da mulher em que cada vez mais o indivíduo parece poder mostrar socialmente que traz em si as duas forças e reprimir cada vez menos uma delas). O homem-machão-provedor-insensível-do-mundo e mulher-emotiva-passiva-de-casa parecem cada vez menos reais. Será que está nascendo em cada indivíduo a bela harmonia de que Heráclito falava? Jung achava que sim. E, resumidamente, nisso consistia a sua teoria da individuação: que cada indivíduo, ao longo de sua vida, tenderia a equilibrar seu masculino e seu feminino, assim como qualquer força oposta desequilibrada. Ele ia além e falava que a própria sociedade também tenderia a esse equilíbrio. E é o que parece realmente estar acontecendo. Ele falava de um ponto chave na vida do indivíduo: os 50 anos. Se alguém levasse uma vida com muita tendência para um dos lados, após esta idade, tenderia a ir para o outro, para compensar. A carreira do ator e diretor Clint Eastwood parece confirmar essa teoria. Até os 50, fez filmes extremamente "masculinos", de faroeste, violência, ação. E, ao passar este marco, fez e dirigiu filmes muito mais sensíveis, iniciando com o belo "As pontes de Madison" (The Bridges of Madison County, 1995). Fabio Rocha - www.fabiorocha.com.br
Para além dos destinos da anatomia: as novas singularidades contemporâneas
Uma grande amiga, mãe de 2 filhos, casada, bancária me mandou um convite para participar de uma comunidade que ela criou no Orkut “Nasci pra ser mãe não para ficar em casa”. Ela deixou o emprego após o nascimento do segundo filho, porque queria estar mais perto deles. Diz estar feliz, mas sente falta de sua vida profissional e há momentos em que se pergunta se fez a escolha certa.
Este é um dilema enfrentado por muitas mulheres que inicialmente escolhem seguir uma carreira profissional e deixar de lado uma dedicação exclusiva ao lar e a família, mas com o nascimento dos filhos precisam rever tal decisão. O nascimento de um filho, para a grande maioria das mulheres, é algo arrebatador, pois muda muito a vida, a rotina, as responsabilidades.
Ouvi uma outra amiga, que não quer ter filhos, dizer que prefere uma vida radical, cheia de riscos e aventuras. Nossa! Risco maior do que ter um filho! É como se um pedaço de você estivesse por aí correndo e você quisesse o tempo todo saber onde.
Essa é uma questão contemporânea de mulheres que lutaram por seus direitos. Sabemos que há algum tempo os papéis de homens e mulheres eram bem definidos. Mulheres cuidavam da família em casa e o homem sustentava o lar e dava as ordens. E hoje? Depende. A mulher pode ou não trabalhar fora, o marido também, e nem sempre quem sustenta é quem manda. As relações de poder mudaram, a mulher deixou de estar apenas à sombra do homem. Convivemos hoje com essa grande conquista nas relações de gênero, mas ela advém de outras grandes mudanças.
Com o advento do Capitalismo, o mundo globalizado, o crescimento econômico, o privilegiamento das leis do mercado, da competição e do individualismo criou-se também uma ampla noção de liberdade sem limites, onde o indivíduo pode ser tudo que quiser, tudo depende dele. No feudalismo, ou nascia pobre ou rico, era a vontade de Deus e só. Contudo, essa ideologia trouxe muita insegurança.
Segundo Anzieu, na clínica hoje, mais da metade da clientela psicanalítica é constituída pelo que se chama estados-limite e/ou personalidades narcísicas. Homens e Mulheres vivem num nível de exigência grande, de muita insegurança, já que lidam com questões novas para ambos. E será que estes novos indivíduos, com todas estas novas exigências e desafios tiveram uma “mãe suficientemente boa” ou tiveram a chance de ser rei na fase da “onipotência infantil” como definia Winnicott. Será que eles estão preparados pra esta luta diária?
Quero dizer com isso que uma boa parte de nossos pacientes, apesar de estarem na corrida por bons empregos, serem bem sucedidos, ainda mostra-se completamente desamparados e inseguros em relação a eles mesmos. Ainda ouvimos dizerem “que não são nada” e que “não são capazes de ser amados”. É necessário nos debruçarmos sobre o desenvolvimento psíquico, dando condições para que o indivíduo possa se desenvolver e amadurecer, para que homens e mulheres possam usufruir dessas conquistas, reconhecerem seu esforço, lutando pelo que se quer, sabendo quem se é e o que já se conquistou. Pois muitas vezes, apesar de terem algum poder de consumo, as pessoas estão perdidas, correm, competem, se relacionam com o outro precariamente e acreditam q não são nada.
O momento exige que sejamos criativos para encontrar novas formas de estar no mundo para além dos papéis socialmente prescritos. Então como ser um homem ou uma mulher? Porque sabemos que biologicamente nascemos como tal, mas que há vários fatores para nos tornarmos Homem e Mulher, assim como nos tornarmos mãe, pois todas as mulheres, a princípio, podem parir, mas nem todas se tornam efetivamente mães. Para viver melhor e enfrentarmos todas essas complexidades é que precisamos estar inteiros, ter um contorno e um limite.
Alessandra Bustamante - alebust23@yahoo.com.br
Este é um dilema enfrentado por muitas mulheres que inicialmente escolhem seguir uma carreira profissional e deixar de lado uma dedicação exclusiva ao lar e a família, mas com o nascimento dos filhos precisam rever tal decisão. O nascimento de um filho, para a grande maioria das mulheres, é algo arrebatador, pois muda muito a vida, a rotina, as responsabilidades.
Ouvi uma outra amiga, que não quer ter filhos, dizer que prefere uma vida radical, cheia de riscos e aventuras. Nossa! Risco maior do que ter um filho! É como se um pedaço de você estivesse por aí correndo e você quisesse o tempo todo saber onde.
Essa é uma questão contemporânea de mulheres que lutaram por seus direitos. Sabemos que há algum tempo os papéis de homens e mulheres eram bem definidos. Mulheres cuidavam da família em casa e o homem sustentava o lar e dava as ordens. E hoje? Depende. A mulher pode ou não trabalhar fora, o marido também, e nem sempre quem sustenta é quem manda. As relações de poder mudaram, a mulher deixou de estar apenas à sombra do homem. Convivemos hoje com essa grande conquista nas relações de gênero, mas ela advém de outras grandes mudanças.
Com o advento do Capitalismo, o mundo globalizado, o crescimento econômico, o privilegiamento das leis do mercado, da competição e do individualismo criou-se também uma ampla noção de liberdade sem limites, onde o indivíduo pode ser tudo que quiser, tudo depende dele. No feudalismo, ou nascia pobre ou rico, era a vontade de Deus e só. Contudo, essa ideologia trouxe muita insegurança.
Segundo Anzieu, na clínica hoje, mais da metade da clientela psicanalítica é constituída pelo que se chama estados-limite e/ou personalidades narcísicas. Homens e Mulheres vivem num nível de exigência grande, de muita insegurança, já que lidam com questões novas para ambos. E será que estes novos indivíduos, com todas estas novas exigências e desafios tiveram uma “mãe suficientemente boa” ou tiveram a chance de ser rei na fase da “onipotência infantil” como definia Winnicott. Será que eles estão preparados pra esta luta diária?
Quero dizer com isso que uma boa parte de nossos pacientes, apesar de estarem na corrida por bons empregos, serem bem sucedidos, ainda mostra-se completamente desamparados e inseguros em relação a eles mesmos. Ainda ouvimos dizerem “que não são nada” e que “não são capazes de ser amados”. É necessário nos debruçarmos sobre o desenvolvimento psíquico, dando condições para que o indivíduo possa se desenvolver e amadurecer, para que homens e mulheres possam usufruir dessas conquistas, reconhecerem seu esforço, lutando pelo que se quer, sabendo quem se é e o que já se conquistou. Pois muitas vezes, apesar de terem algum poder de consumo, as pessoas estão perdidas, correm, competem, se relacionam com o outro precariamente e acreditam q não são nada.
O momento exige que sejamos criativos para encontrar novas formas de estar no mundo para além dos papéis socialmente prescritos. Então como ser um homem ou uma mulher? Porque sabemos que biologicamente nascemos como tal, mas que há vários fatores para nos tornarmos Homem e Mulher, assim como nos tornarmos mãe, pois todas as mulheres, a princípio, podem parir, mas nem todas se tornam efetivamente mães. Para viver melhor e enfrentarmos todas essas complexidades é que precisamos estar inteiros, ter um contorno e um limite.
Alessandra Bustamante - alebust23@yahoo.com.br
Assinar:
Postagens (Atom)